Revolução de 30

Convencionalmente chamada pelos historiadores como Revolução de 30, esta tratou-se do movimento empreendido por políticos e militares que, derrubando o então presidente Washington Luís, estabeleceu o fim da República Velha no Brasil e inaugurou a chamada Era de Vargas, levando o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas ao poder presidencial. O governo de Getúlio Vargas estendeu-se a partir daí por um período de quinze anos.

Conta-se entre os principais fatores que levaram à Revolução de 30 o fator da crise econômica: a produção de café no país recebia gordos subsídios do governo, que também cuidava de manter em alta os preços do café no mercado internacional através de compras do excedente. A produção de café no Brasil, neste período, excedia muito o consumo mundial total. Ao passo em que a valorização dos preços do café no mercado internacional eram mantidas por grandes esforços no Brasil, as produções cafeeiras nacionais e dos países concorrentes eram estimuladas. Tais medidas de superproteção ao café levavam vantagens apenas aos interesses dos estados produtores, enquanto que os estados não-produtores eram cada vez mais relegados ao caráter de estados de periferia. Outra decorrência desta manutenção dos preços do café foi a grande desvalorização da moeda, fator que prejudicava por fim e mais uma vez o proletariado. A partir de 1929, ano da quebra da Bolsa de Nova York, a situação econômica brasileira tende a ser agravada, sobretudo nos anos 30, acompanhando a tendência mundial neste período e ainda em decorrência de seus problemas econômicos específicos.

A dívida externa brasileira já chegava a altos patamares: desta forma houve grande retrocesso quanto ao crédito enviado para o Brasil e também maior pressão dos credores. Pressionado, o governo de Washington Luís termina por dar fim à política de valorização do café, o que gerou grande descontentamento por parte das oligarquias cafeicultoras. Portanto, o governo perde o apoio destas elites, sobretudo em São Paulo. Daí o governo passou a enfrentar uma grave crise política: membros vinculados ao Partido Republicano Paulista, descontentes da nova política econômica, acabaram por fundar um partido oposicionista, o Partido Democrático. Nesse ínterim, surge no cenário político a figura ascendente de Getúlio Vargas que, do cargo de deputado por seu estado, o Rio Grande do Sul, passa a assumir no governo de Washington Luís a pasta do Ministério da Fazenda.

No período de sucessão presidencial, o presidente Washington Luís acaba por romper com o acordo previsto na política do "café com leite": acaba dando preferência a mais um candidato paulista para a presidência, Júlio Prestes. Anteriormente previsto como candidato oficial, o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada se une a governadores de outros estados, também descontentes com a posição política periférica de seus estados em relação aos desígnios federais. Esta união com os governadores dos estados de Minas Gerais, da Paraíba e do Rio Grande do Sul e ainda com a aproximação do Partido Democrático resultaram na formação da chamada Aliança Liberal. Neste período, Getúlio Vargas já era governador do estado do Rio Grande do Sul, tendo sido indicado como candidato à presidência pela Aliança, tendo o governador paraibano João Pessoa como candidato a vice. As idéias defendidas pela Aliança Liberal representariam grandes avanços no país: jornada de trabalho de oito horas, aposentadoria, voto secreto, direito de voto estendido às mulheres etc. Apesar desta procura de apoio das classes trabalhadoras, como se observa nos primeiros tópicos descritos do programa da Aliança, acaba por vencer as eleições de 1930 o candidato governista.

Alguns setores da Aliança Liberal, formada por jovens políticos, tenderam a não aceitar os resultados da eleição favoráveis a Júlio Prestes. Deste modo, passam a articular-se com os tenentistas exilados. Entre estes, Luís Carlos Prestes acaba recusando o comando de um possível levante pois caso contrário estaria compactuando com setores políticos antagônicos aos ideais comunistas em que já acreditava. Outros tenentes uniram-se à Aliança, como João Alberto e Juarez Távora.

O clima de tensão no país já havia se instalado, enquanto o governo do Rio Grande do Sul preparava-se para o levante armado com a compra de armas do exterior. Tornando a situação mais instável, ocorreu em 26 de julho de 1930 o assassinato de João Pessoa, ao qual a oposição atribuiu motivos políticos.

A luta armada iniciou-se em outubro, no Rio Grande do Sul. O movimento estendeu-se para outros estados, como Minas Gerais e estados das regiões Nordeste e Norte. As forças revolucionárias proveniente dos estados de Minas e Rio Grande do Sul já deslocavam-se para a capital federal: diante das expectativas de luta, as cúpulas da Marinha e do Exército trataram de depor o presidente Washington Luís e estabeleceram uma junta governativa. Esta tomada de poder pelos militares não foi aceita pelos revolucionários, que passaram a exigir a posse de Getúlio Vargas na presidência. Assim, encerra-se a Velha República no Brasil, com Getúlio tendo tomado posse da presidência em 3 de novembro de 1930: a partir daí, inicia-se a fase na história do Brasil chamada "Era de Vargas". O governo de Vargas, por vezes autoritário, passou a deslocar o eixo das principais atividades econômicas brasileiras dos setores agrários para o setor industrial. Uma nova Constituição para o país foi promulgada só em 1934, através da grande pressão política sobre o governo de Vargas, após ter ocorrido a chamada Revolução Constitucionalista em 1932.