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René Descartes (1596 - 1650)

Filósofo racionalista francês, considerado o pai da filosofia moderna. Nasceu em La Haye, na Touraine, filho de uma família de burgueses e proprietários rurais. Fez seus primeiros estudos no colégio jesuíta de La Flèche entre 1606 e 1614, passando então ao estudo do direito em Poitiers, concluído em 1616.

Iniciando carreira militar, em 1618 aliou-se a Maurício de Nassau no combate aos espanhóis, viajando para a Holanda. Nesta época, desenvolveu amizade com Isaac Beeckman, médico holandês dedicado aos estudos matemáticos, o que fortaleceu os estudos de Descartes neste sentido, bem como sua inclinação pelas ciências matemáticas.

No ano seguinte, integrou-se ao exército de Maximiliano da Baviera, em guerra contra a Boêmia. Viajou por vários países da Europa, e ingressou na associação Rosa-Cruz, confraria que alia o misticismo a uma doutrina de caráter racional. Neste mesmo ano de 1619, um sonho profético levou-o a consolidar sua vocação filosófica.

A partir do ano seguinte, Descartes abandonou sua carreira militar, passando a dedicar-se exclusivamente aos assuntos de ordem científica e filosófica. Realizou novas viagens, à Itália e à Paris, até fixar residência na Holanda, em 1628.

Em 1649, a Rainha Cristina o convidou a viajar à Suécia. Devido à saúde frágil e aos rigores do clima nórdico, Descartes faleceu, de pneumonia, neste mesmo ano. Alguns de seus principais escritos: Discurso do método, Meteoros, Dióptrica, Geometria, Meditações sobre a filosofia primeira, Princípios da filosofia, Tratado das Paixões.

A originalidade da concepção filosófica de Descartes inicia com a busca de um método que garanta a possibilidade de alcançar certeza através do conhecimento. Com isto, assume a dúvida cética acerca da realidade. Todavia, este procedimento não tem a dúvida como fim, ao modo das formulações dessa escola; antes, ele possui o intuito de levá-la às suas últimas conseqüências, a fim de que, deste esgotamento, possa surgir um campo de certezas.

O meio a ser pesquisado de maneira privilegiada será o eu, fonte de dúvida e verdade, e as idéias que nele se apresentam. Quanto a elas, percebe que as idéias relacionadas ao mundo físico são obscuras e duvidosas; as idéias que apresentam maior transparência são, ao contrário, as referentes ao campo matemático. Estas possuem a característica de se apresentar evidentes por si mesmas, o que leva Descartes a afirmar a existência de idéias inatas, existentes sob a mesma forma em todos os indivíduos de maneira clara e distinta, independentes dos dados sensíveis.

Contudo, perseguindo o caminho da dúvida metódica, deve-se duvidar mesmo de tais idéias: quem garante que estas, a despeito de sua clareza, correspondam a algo real? O filósofo radicaliza a dúvida, lançando a hipótese do malin génie: imaginando que haja um princípio maligno no universo, um gênio instaurador de engano, este faria com que não houvesse jamais correspondência entre uma certeza racional e um estado de fato.

Deste modo, a impossibilidade de fundamentar externamente a certeza leva a sua busca a ser efetuada na interioridade do sujeito. Esta se manifesta, assim, a partir da afirmação: se duvido de tudo, não posso, contudo, duvidar de que duvido. Desta forma, se duvido, penso. Este constitui o primeiro elo na cadeia de certezas requerida pela construção de um conhecimento seguro.

Contudo, ela permanece inscrita na interioridade do sujeito pensante. Contudo, para que haja pensamento, é forçoso afirmar que existe algo que pensa. Surge, assim, a certeza da afirmação do eu enquanto existente, a partir do pensamento, expressa na célebre fórmula: Penso, logo existo (Cogito ergo sum).

Esta fórmula postula o primeiro e decisivo encontro entre o subjetivo e o objetivo, no caminho que procede do pensamento à realidade externa. Descobre-se, assim, a coisa pensante (res cogitans).

A partir desta descoberta, Descartes procede à tentativa de fundamentar racionalmente a existência divina, baseando-se no princípio de causalidade e no argumento ontológico, desenvolvido posteriormente por Santo Anselmo ; ainda que este seja modificado por este filósofo, os dois argumentos são provas retiradas da filosofia escolástica, que influiu decisivamente para a construção do pensamento cartesiano.

A existência de Deus, entendida como res infinita, é a garantia de um princípio oposto ao do malin génie, que afirma o bem intrínseco ao universo; este permite a correspondência entre as idéias claras e distintas e a realidade efetiva. Deus -- a res infinita -- figura, na filosofia cartesiana, como o mediador entre o pensamento -- res cogitans -- e o mundo sensível, encarado por Descartes a partir da idéia de extensão -- res extensa. A afirmação destas duas substâncias independentes constitui o cerne disso que a história da filosofia postulou como o dualismo cartesiano.

A filosofia cartesiana, contudo, não deve ser encarada unicamente desde seu aspecto de construção metódica. As considerações de Descartes abrangem um vasto campo: metafísico, físico, psicológico e moral, que o convertem em iniciador do racionalismo na Modernidade.

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Obra:
René Descartes - Discurso do Método (127K) (pdf)
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Fonte: •Enciclopédia Digital 99 • ( Literatura e Leitura ) •